quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Diário de um estreante: Paulo Pichini revela emoções no deserto

15/01/ - 07:55

Pichini encara as dunas da décima etapa do Dakar

Desde a largada em Buenos Aires, muita expectativa pairava sobre o impacto que o Deserto do Atacama teria sobre nós. Ontem descobri que ele é tudo que nos falavam, mas que nós também podemos transformá-lo num lugar de experiência única e positiva. Entenda, o deserto é onde somos testados constantemente. Nele não há alívio. As dificuldades são fixas. Superada uma duna, surge outra a sua frente, como num enorme tobogã. O calor devastador junta com o cansaço, e como num passe de mágica, o rali faz com que tudo isso dê lugar ao prazer em acelerar.

Na manhã de ontem, antes de largarmos para a décima etapa, uma neblina densa pairava sobre o Atacama, e a prova só começa quando as aeronaves médicas, e de direção de prova e imagens, podem subir. Esperamos horas até que a largada fosse liberada.

Na trilha, trechos rápidos se alternavam a sustos e vôos loucos, quando acelerávamos forte, e de repente, valas surgiam pelo caminho e nos faziam literalmente quicar. Posso dizer que ontem foi o dia que mais senti o perigo me cercar, e por vezes quase capotamos! Ao mesmo tempo também me senti vivo, cheio de adrenalina e disposição para mais.

Lição - Ao dar de cara com cada duna do Atacama, lembrei de cada detalhe aprendido nas dunas cearenses, onde ia encontrar meu instrutor de condução nesse piso, Paulo Jorge. Aprendi que a areia pede uma leitura diferente do terreno, nela o tempo de troca de marcha é outro, e a aceleração tem seus macetes. Santas aulas!

A cada subida, era preciso dar conta do nosso desempenho e ainda desviar dos concorrentes que já estavam atolados por lá. Nesses momentos, a potência do carro é nossa maior aliada e com tanto esforço, num terreno sem tração eficiente, a temperatura sobe e nos rouba tempo.

No caminho, encontramos carros capotados, um caminhão tombado, além de carros e motos quebradas. Ao ver tudo isso, passei a agradecer por estarmos bem. O medo de quebrar e ficar naquele lugar eram constantes e ao mesmo tempo, era muito bom estar ali.

A noite nos pegou quando ainda faltavam quatro quilômetros para a chegada. Aí, o bicho pegou! Foi preciso muito cuidado para não fazer bobagem tão perto de mais uma chegada. E foi assim que conseguimos vencer mais um dia de desafios.

Agora posso dizer que me sinto parte do Dakar. Domino melhor o carro, evolui como piloto e paira sobre mim uma enorme saudade de tudo e todos. Hoje a organização cancelou a 11ª etapa da prova em função das condições climáticas, vamos seguir em deslocamento para Fiambalá, já na Argentina. Impossível esperar que venham dias fáceis nesta reta final, por isso não perco o foco de concluir o Dakar superando cada etapa com muita garra, força e determinação.

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